quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Monstros modernos


Não dá pra falar de mitos modernos sem lembrar de... FILMES DE TERROR!!!! X3

Como não??? Os filmes de terror, principalmente aqueles com seqüências infinitas, são responsáveis pela consolidação de toda uma série de novos monstros mitológicos. Ogros, bruxas, dragões, duendes se transformaram com o tempo nos maníacos sobrenaturais do cinema. Vai tentar se enganar que não? Quando você está sozinho em casa, no meio da madrugada, e bate aquele medinho inexplicável, você imagina o que te espiando pela janela? Talvez um gigante com máscara de hóquei, ou um homem todo queimado com unhas afiadas... Quem sabe você até olhe pra sua sala de TV e pense numa garotinha molhada com o cabelo na cara... Ou talvez você tenha medo de topar com um boneco ruivo de macacão colorido no corredor AAAHHH!!!! Atire a primeira pedra quem nunca na vida temeu essas figuras!

Tá certo, hoje já somos crescidinhos e até rimos assistindo a esses filmes... Mas isso não muda o fato de que esses são os nossos monstros atuais, parte integrante do nosso imaginário, cada um com sua história assustadora que adquiriu para nós o status de mito.

Senão, vejamos:

Michael Myers
No primeiro Halloween, as crianças pensam que se trata do Bicho-Papão. Até o roteiro do filme se refere a ele com o respeito de um símbolo poderoso: chama-o de The Shape.

Michael Myers é o primeiro dos grandes serial killers do cinema. Nasceu em 1978, com seu primeiro filme, filho de uma família normal da cidadezinha de Haddonfield. Numa noite de Halloween, o menino de 6 anos, vestindo uma fantasia e uma máscara de palhaço, pega uma faca na cozinha e mata sua irmã mais velha, Judith Myers. Quando seus pais chegam em casa de uma festa e o encontram do lado de fora, retiram sua máscara para encontrar um menino de olhar perdido e vazio.

Michael é mandado para um manicômio, e quem assume seu caso é o Doutor Loomis. Ele é o Doutor Jekyll deste Mister Hyde, o contraponto ao ódio insano e frio do Bicho-Papão, a única pessoa que mantém um relacionamento íntimo com Michael, e que por isso pode se comunicar mais profundamente com ele. O Dr. Loomis tem as melhores falas do filme:

"Eu o conheci há quinze anos. Disseram-me que não havia mais nada. Nem razão, nem consciência, nem entendimento, nem mesmo a mais rudimentar noção de vida e morte, bem e mal, certo e errado. Eu conheci um menino de seis anos, com um rosto pálido e sem emoção, e os olhos mais negros... os olhos do demônio. Passei oito anos tentando chegar a ele, e então mais sete tentando mantê-lo preso, porque percebi que o que vivia por trás daqueles olhos era pura e simplesmente... o mal."

A motivação de Michael é encontrar e matar sua irmã mais nova, Laurie, ou Jamie Lee Curtis. =p E quando ele descobre que ela teve uma filha, esta também passa a ser perseguida. Por quê? Bem, porque sim, ora. O bom de ser mau é não ter que dar explicações.

Com o tempo e as seqüências, Michael acabou virando um assassino indestrutível, muito parecido com seu subproduto mais famoso...


Jason Voorhees

Esse é o dono de uma das maiores séries do cinema, se não for a maior. São onze filmes - doze se você contar Freddy vs Jason. Tá que no primeiro filme ele não mata ninguém e só aparece no final, ainda menino, pra puxar a Alice pro fundo do lago.


Mas isso não tira a moral do homi! Jason cresce e aparece no segundo filme, e no terceiro consegue a máscara que hoje é símbolo de serial killer matador de adolescentes safadinhos.

Jason assombra as cercanias do acampamento de Crystal Lake. Se você for um jovem monitor querendo aproveitar que as criancinhas ainda não chegaram pra pegar aquela outra monitora gostosa... já elvis. Você será inevitavelmente morto por um facão/machado/martelo/flecha/arpão/tesoura de jardineiro/cornetinha de plástico, ou qualquer outra coisa em que o Jason consiga por a mão.

O mito de Jason começa com sua mãe, Pamela, que enlouquece após descobrir que seu único filho morreu afogado no lago enquanto os monitores se distraíam transando no matinho. Jason devia ser vigiado o tempo todo. Nunca ficou claro se ele também era retardado ou apenas fisicamente deformado, mas o fato é que ele não sabia nadar muito bem. Com a morte do filho, a Sra Voorhees passa a matar todos que puserem os pés no acampamento de Crystal Lake. E, quando ela é morta por uma das garotas, Jason sai do lago e assume a tarefa.

O elo mãe-e-filho nesta história é tão forte que eles nunca estão realmente separados. A Sra Voorhees incorpora a voz do filho morto em sua cabeça, e repete suas falas em tom infantil: "mate-a, mamãe, mate todos eles". A propósito, a faixa-tema de Sexta-Feira 13, "kikiki... hahaha..." é nada mais que a frase "kill her, mommy" jogada numa máquina de eco e fading. ;) A morte da mãe inverte os papéis, e agora é Jason que ouve e obedece a voz interior de sua mãe: "kill for mother, Jason". Dessa forma, mãe e filho acabam sendo um só. É um caso de amor edípico fora de controle, com uma mãe forte, influente, severa, mas amorosa, e um filho dedicado, cegamente obediente e dependente de aprovação.


A série Sexta-Feira 13 (que, por sinal, se refere ao aniversário do Jason, 13 de junho de 1946) lançou os padrões pra todos os filmes de serial killer que se seguiram, com poucos lampejos de criatividade, entre eles...

Freddy Krueger
O mais popzinho dos assassinos sobrenaturais, o homem dos seus sonhos. =p Criado por Wes Craven, depois que o diretor leu uma notícia sobre crianças na Índia que estavam morrendo após sofrer pesadelos horríveis, Freddy entrou imediatamente para o rol dos assassinos cultuados.

Nascido de uma freira estuprada por 100 loucos perigosos (a concepção é mitológica ou não é? XD), Krueger era um operário que gostava de torturar e matar crianças., com um leve toque de pedofilia. Sim, um monstro que come criancinhas. =p Ele foi preso e liberado por falta de provas, mas os pais da vizinhança fizeram justiça com as próprias mãos, trancando-o num galpão e queimando-o vivo. Agora, Freddy aparece nos sonhos dos filhos daqueles que o mataram. O inconsciente é seu território: ele cria seu pesadelo, e se te pega dentro dele, você morre também na vida real. Essa premissa favoreceu muitas cenas perturbadoras e mortes criativas, como quando Freddy suga o ar de dentro de uma asmática e a deixa murcha feito uma boneca inflável, ou quando as pessoas morrem afogadas no chuveiro, ou quando Johnny Depp é engolido pela própria cama no primeiro filme... (O quê? Não sabia? O Freddy mata até o Johnny!)

Agora, como você espera se safar de um maluco com garras afiadas quando está DORMINDO? Pois é. Sua única chance é tentar controlar o pesadelo, mas eu, pelo menos, sou uma inepta nisso, assim como, penso, a maioria das pessoas. Você pode até tentar ficar acordado, deixar a TV ligada, tomar café, se beliscar, mas não tem jeito: uma hora você vai dormir, e nessa hora o Freddy vai te pegar.

Interessante notar que todos os jovens que Freddy assombra sofrem relacionamentos disfuncionais com seus pais. Não raro, a mãe da personagem principal é ausente e alcoólatra. Os pais não acreditam nos filhos, prendem-nos em casa, não aprovam suas decisões ou amizades... E são esses os mesmos pais que no passado resolveram livrar seus filhos da ameaça do assassino de criancinhas, criando assim um perigo muito pior... Um perigo que agora vive dentro da cabeça desses mesmos filhos.

Freddy tem uma personalidade forte, e é um dos únicos serial killer monstros que fala. É comum usar de sua boca suja pra aterrorizar suas vítimas em outro nível, o da violação sexual. Chamar as garotas de "bitch" é de praxe. Mas também acontecem línguas nojentas saindo pelo bocal do telefone para lamber a boca da vítima, rasgação de camisolas e, é claro, a ameaça medonha daquelas unhas deslizando por entre pernas despidas... Pois é. Se nem Jason nem Michael aprovam o modo de vida sexo-drogas-e-rock'n'roll de suas vítimas, Freddy é o primeiro a quebrar o tabu e ir além. O monstro mais homem de todos.

Por último, não posso deixar de falar do meu querido...


Chucky

Ah, a infância! Aurora da minha vida, minha infância querida, que os anos não trazem mais... Você TEM que assistir a esse filme quando é criança. Sua vida muda, seu quarto muda, seus brinquedos assumem uma aura que você até então ignorava... Qualquer coisa pode ser ameaçadora, no escuro do seu quarto... Principalmente coisas com olhos.

Charles Lee Ray, vulgo Lakeshore Strangler, é o notório criminoso que mata pessoas em rituais de vodu misteriosos. Tudo bem, isso é até interessante, mas ele seria só mais um serial killer sem grande destaque no imaginário popular, se felizmente não tivesse sido baleado por um policial numa perseguição, entrado numa loja de brinquedos e transferido sua alma para o corpo de um boneco sucesso de vendas. Agora sim!

Chucky (seu apelido carinhoso) é encontrado nos destroços da loja por um mendigo, comprado por uma mãe de classe média que trabalha demais e recebe de menos e dado como presente de aniversário ao pequeno e solitário Andy Barclay. O universo concebido pelos criadores deste filme é opressor: a cidade grande é escura, suja, barulhenta e decadente. A família de Andy consiste em sua mãe cansada e infeliz. O único conforto do pobrezinho é se apegar ao Good Guy (Bonzinho), personagem animado de uma série de TV que atende aos chamados das crianças tristes e solitárias, descendo de um balão no céu para lhes fazer companhia. Não à toa, o que Andy mais deseja na vida é um boneco do Bonzinho. Ele até fala! E o de Andy nem precisa de pilhas!

Um boneco possuído por um serial killer que tenta passar sua alma para um menininho indefeso. A história é bizarra, mas é criativa. E o Chucky virou ícone cult, graças a sua personalidade marcante, seu visual infantil e bizarro, sua expressividade e, é claro, sua voz insubstituível, feita pelo inigualável Brad Dourif. [fangirl mode] Chucky é ídolo!


Geeeeente, eu tenho que ter essa edição de aniversário de 20 anos!!! Olha como o Chucky tá ph0da na capa!!!! Amei!!!!

Hoje, Chucky pode ser mais engraçado que assustador, mas, no início, muita gente teve medo dele. O lançamento do filme causou uma onda de paranóia, alimentada mais ainda pela idéia de jerico que tiveram de comercializar o boneco Bonzinho (wtf? Tá certo que eu compraria, mas...).

Trivia: o nome Charles Lee Ray é formado a partir dos nomes de outros três serial killers da vida real: Charles Manson, Lee Harvey Oswald e James Earl Ray.

Chucky sendo assustador:





Chucky sendo lindinho!!!!





É muita fofura pra um boneco possuído homicida só!!!

[/fangirl mode]

Caham.

E esses foram alguns dos nossos mitos do terror modernos.

Um comentário:

  1. Adorei o artigo! Quanto amor na escrita! =)
    Só uma nota: Lee Harvey Oswald e James Earl Ray certamente foram assassinos, mas não eram serial killers. O primeiro assassinou o Martin Luther King e o segundo, o sniper acusado pela morte do Kennedy.

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