Os Dados de Einstein

Fragmento da carta escrita por Einstein em 1954 (um ano antes de sua morte) ao filósofo alemão Eric Gutkind. A carta era de coleção particular e foi leiloada por US$ 404.000,00.

Recentemente chegou a meus ouvidos e minha mente que algumas pessoas pensam que Einstein era religioso. A pessoa que fez essa afirmação, aliás, estava se utilizando do Argumento Bobo para a Existência de Deus número 98:

98 – Argumento dos Grandes Pensadores

• Muitos dos grandes pensadores europeus acreditavam em Deus.
• Não vamos considerar os séculos 19 e 20.
• Então, Deus existe.

Quando apontei o fato de que os pensadores dos séculos mais recentes estavam sendo ignorados (o que atrapalha muito esse argumento, já que antes do século XIX não havia Darwin e a Teoria da Evolução, embora já houvesse quem achasse a criação divina uma hipótese absurda),a pessoa citou Einstein como exemplo de um cientista moderno que acreditava em Deus.

É alarmante que até hoje haja quem pense que um homem tão inteligente e moralmente sábio acreditava em Deus, e justo no Deus cristão. Isso é conseqüência do que Richard Dawkins chama de "quote mining", ou "minação de citação": quer dizer usar uma citação fora de contexto para manipular o espectador. Há uma citação muito conhecida de Einstein: "Deus não joga aos dados". A menção a Deus pode levar a crer que Einstein era crente (hehe), mas, se analisarmos o contexto da frase, veremos que ele na verdade queria argumentar CONTRA a existência de Deus. Einstein estava desapontado com a mecânica quântica, pois achava que seria possível prever a natureza através de cálculos. Bohr atacou Einstein dizendo que, assim como é impossível prever o resultado de dois dados jogados ao chão, também era impossível prever o comportamento de Deus sobre a natureza. A réplica de Einstein foi que “Deus não joga dados”. Ele tinha a plena certeza de que era possível prever a natureza, o movimento dos astros e dos cometas, através de cálculos. "Deus" não tinha vontade própria; se houvesse um "deus", ele seria simplesmente as leis naturais; pura física.

Na verdade, Einstein era ateu, como deixa bem explícito numa carta escrita a um amigo filósofo, e que foi recentemente arrematada em leilão:

“A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.”

Na carta, Einstein comenta que declinou o convite do então recém-formado Estado de Israel para ser o segundo presidente do país. Ele também fala que não acredita que os judeus sejam o “povo escolhido”.

“Para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos.”

“Até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos dos piores cânceres por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre eles”.

Mais citações de Einstein:

"Deus é uma hipótese e, como tal, depende de prova: o ônus da prova cabe ao teísta."

"Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível."

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Vídeo de Richard Dawkins sobre quote mining: