[Aviso: nível médio de spoiler.]
É o seguinte: Jennifer's Body foi roteirizado pela Diablo Cody (nome legal!), a mesma de Juno. Só isso já garante que alguma coisa presta nesse filme. Assim como Juno, sinto que é um daqueles filmes que vão marcar esta geração de (pré-)adolescentes. Me lembra um pouco o caso do Jovens Bruxas (The Craft), que marcou a minha geração. Era um filme de suspense com uma pegada mega jovem, sobre as agruras da pubescência e o risco de brincar com o sobrenatural. Ah, e uma trilha sonora super da hora. Bem teen.
Tudo isso, Jennifer's Body também tem, com o plus de personagens inteligentes e eloqüentes. Os diálogos e a narração são pontuados de pequenas sacadas espertas e irônicas, como "o inferno é uma garota adolescente"; "um drink chamado 11 de setembro"; "uma tragédia que deixou todos com uma ereção enorme" (essa foi ótima!), e por aí vai.
É um filme engraçado, que tira sarro dos clichês e bizarrices do terror pop, como a indefectível existência de uma seção de ocultismo na biblioteca da escola (quando era mais nova, eu sempre me perguntava por que diabos as bibliotecas aqui no Brasil não tinham livros de bruxaria e manuais de exorcismo). Ao mesmo tempo, é uma história que se leva a sério, com momentos dramáticos, sem banalização das mortes e das tragédias pessoais. A protagonista e narradora, Needy (lol) fica seriamente perturbada ao longo do filme; os pais sempre aparecem desesperados quando descobrem o filho morto; a população da cidadezinha sente o choque dos eventos (a tal da "ereção", como ironicamente define Needy). Um momento bonitinho: Needy, segurando o namorado Chip nos braços, todo ensangüentado, diz a ele chorosa "pensei que você estivesse morto". Ele responde, moribundo: "acho que eu tinha morrido, mas voltei quando ouvi sua voz". Awww... Gente, foi uma cena muito adorável, sério. Uma das melhores coisas desse filme é que, até em cenas como essa, ele consegue ser sério sem ser melodramático.
Então, em termos de comédia e dramaticidade, o filme se sustenta, e assim consegue escapar do rol dos besteróis irrelevantes à la Todo Mundo em Pânico, e se aproxima mais de Jovens Bruxas e de Juno. Ponto também para a referência a A Morte do Demônio (The Evil Dead), o cult de Sam Raimi, do qual eu já falei aqui uma vez!
Pelo panorama, você pensaria que a possuída deveria ser Needy: ela seria a vítima da baixa estima, da vergonha da virgindade, da falta de amigos e de popularidade, da sombra criada pela luz de Jennifer. Mas não. Needy está passando por uma fase bem resolvida no início do filme, graças a seu namorado super bacana. Ah, por sinal, Jennifer não namora. Entendeu agora?
"Por que eu, a gostosa, estou solteira, e você, a quatro-olhos, tem um namorado legal e bonitinho?
Vou seduzi-lo e então devorá-lo para reafirmar minha superioridade!"
Pois é. Agora deu pra sacar tudo.
Infelizmente, em termos de terror e trash, Jennifer não traz muito. Quer dizer, não se você já tiver passado dos, digamos, 12 anos. Como já disse, acredito que esse filme seja impactante para os tweens. Fiquei ressentida da falta de sangueira, do excesso de CG'ing e da timidez com que os corpos estraçalhados são mostrados. Gostei, no entanto, de uma das falas usadas para descrever o estado de mutilação de uma vítima: "Ouvi dizer que Fulano ficou parecendo uma lasanha com dentes".
Mas, enfim, é um filme a ser experimentado. Uma fábula adolescente moderna, com toques de O Exorcista, Segundas Intenções e, na vida real, Elizabeth Bathory. (Não, não vou dizer que parece com Carrie, A Estranha. Não parece. A única semelhança é que tem um baile. Parem de comparar com Carrie.)
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