segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Oremos... Não. Pensemos.

Um pequeno texto traduzido por mim, do site God is Imaginary:

Eis o que sabemos sobre Deus:

1. Não há evidência científica indicando que Deus exista;
2. não há evidência científica indicando que Deus atenda preces;
3. se criarmos uma situação extrema – como pedir a Deus que restitua membros amputados – Deus NUNCA atenderá;
4. a Bíblia é claramente obra de homens primitivos, e não de uma entidade sobrenatural onisciente;
5. etc.

Em outras palavras, Deus é imaginário. É óbvio.

Mesmo assim, se você conversar com cristãos praticantes, verá que eles ignoram todas essas evidências. Eles lhe dirão que Deus certamente existe e que Ele atende preces para eles todos os dias. Livrarias e revistas cristãs estão cheias de histórias de preces atendidas. Os cristãos acreditam que Deus desce do céu e responde a bilhões de orações na Terra para eles.

Logo, surge a pergunta: se existem tantas evidências de que Deus seja imaginário, e se existe evidência científica inegável e confiável que mostra que Deus nunca atende preces, por que os cristãos insistem que Deus existe e que ele atende a suas preces diariamente? O que levaria os cristãos a pensar assim, apesar de toda a evidência em contrário? Em outras palavras, o que será que motiva os cristãos a ignorar as fortes evidências de que Deus é imaginário?

Aqui estão cinco hipóteses:

1. Os cristãos podem preferir acreditar que Deus responde às suas preces, mesmo que os indícios de “preces atendidas” não passem de coincidências, porque eles têm medo da morte. Não há evidência nenhuma de que exista um Paraíso ou uma vida após a morte. Mesmo assim, o prospecto da mortalidade é muito desconfortável para muitas pessoas. Devido a esse desconforto, elas podem ter uma razão tão forte para acreditar na promessa de Jesus de vida eterna, que elas precisam sustentar essa crença com outras evidências. Como Jesus também promete que ele atende a rezas, essas pessoas estão dispostas a transformar qualquer coincidência numa “prece atendida” e creditá-la a Jesus.

2. Os cristãos podem escolher acreditar que Deus responde a preces porque isso faz um grande bem ao ego. Essa explicação funciona tanto para os “grandes milagres” quando para os pequenos. Imagine isto: você tem câncer, reza para que Deus te cure, faz uma cirurgia e quimioterapia, e o câncer recua. O que curou você? A cirurgia e a quimio – isso é o que indicam todas as evidências. Se Deus pretendia te curar, você poderia ter dispensado o tratamento médico. Mas, como cristão, faz bem para o seu ego acreditar que um criador todo-poderoso curou você. Significa que ele tem “grandes planos” para o resto da sua vida.
Ou, imagine algo bem menor: você reza para que Deus remova uma mancha da sua camisa favorita, e, quando você a lava, a mancha sai mesmo. Foi o detergente que a removeu. Mas um cristão interpreta isso de forma diferente. Para ele, isso quer dizer que o criador do universo desceu dos céus para ouvir e atender especificamente uma oração. Se você ignorar todas as outras preces que Deus não atende com a desculpa de que “não faz parte dos planos dele”, então a idéia de que Deus está te ouvindo e atendendo individualmente pode ser tremendamente prazerosa para o seu ego. Significa que você é especial para Deus. Tudo isso é uma ilusão criada na mente do cristão para massagear o ego.

3. Cristãos podem escolher acreditar que Deus atende a preces porque eles têm medo de estar sozinhos. Eles precisam converser com um amigo invisível para lidar com a solidão, e Deus é o amigo imaginário aprovado pela sociedade. Talvez, para milhões de pessoas, um amigo imaginário seja a única maneira que elas têm para lidar com o fato de estarem sozinhas. Para fazer com que esse ente imaginário pareça mais real, a ilusão de que ele ouve e atende orações pode ajudar.

4. Quando nós nascemos, instintivamente temos um lugar no cérebro para um “ser todo-amoroso e todo-poderoso”.Quando somos jovens, este ser é chamado de pai, e as crianças, de forma natural e instintiva, se ligam a seus pais. E se um grande número de pessoas nunca superasse essa fase, e precisasse preencher esse espaço no cérebro com alguma coisa, após haver se afastado de seus pais de verdade para seguir com a vida? Em outras palavras, e se esse espaço no cérebro pemanecer na vida adulta para muitas pessoas, por muito tempo depois de haver servido seu propósito, e as pessoas se sentissem solitárias a não ser que preenchessem esse espaço com alguma coisa? Ter um amigo invisível “todo-poderoso e todo-amoroso” seria algo óbvio com o que preencher esse vazio. Se você puder aumentar essa ilusão acreditando que esse amigo imaginário atende preces, melhor ainda.

5. Os cristãos podem querer acreditar que Deus atende suas preces, apesar das evidências de que as preces respondidas sejam mera coincidência, porque isso fará deles o centro das atenções entre seus colegas na igreja. Se um dia você assistir a um grupo de cristãos comparando suas preces atendidas, você verá como o processo funciona. Um cristão iniciará a conversa: “bem, meu cachorro Binky estava sofrendo com perebas horríveis, e o veterinário passou um remédio que não funcionou da primeira vez, mas eu rezei para Deus e depois de quarto dias as perebas tinham sumido. Aleluia!” Agora isso pode virar um jogo de comparação. “Bem, eu estava planejando minhas férias e não fazia idéia de onde tiraria dinheiro, então eu rezei para Deus e naquele mesmo dia recebi uma oferta de cartão de crédito pelo correio e a linha de crédito era suficiente pra pagar as contas! Aleluia!” Num ambiente desses, se você não tiver uma história de prece para contar, vai parecer que você perdeu as graças de Deus. Portanto, você pode estar disposto a exagerar um pouco, ou até a inventar uma história, para não perder o brio diante dos seus amigos.

Isso é uma prova direta de que Deus é imaginário? Não. Mas mostra que os cristãos têm fortes incentivos para se iludirem a acreditar. O que se nota é que os cristãos – principalmente aqueles que são membros de comunidades de igrejas – têm fortes razões para inventar histórias sobre orações e para ignorar todas as evidências de que as preces atendidas são na verdade coincidências. Essas motivações explicam completamente o fenômeno das preces atendidas nas comunidades cristãs.

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Além destas razões, eu gostaria de acrescentar uma sexta: os cristãos podem ainda dizer que Deus atende a suas preces como uma forma de levar os ateus/agnósticos a considerarem a existência de Deus. Os crentes adoram contar histórias de milagres e de preces atendidas para aqueles que duvidam, na esperança de que os céticos passem a acreditar ou, ao menos, se sintam incomodados ao depararem com algo supostamente inexplicável pela ciência. Mas os crentes parecem ignorar que aos nossos olhos essa é uma tentativa um tanto patética. Antes de considerar que Deus seja a explicação para um aparente “milagre” ou uma “oração atendida”, existem muitas outras hipóteses mais plausíveis, como a coincidência, a auto-sugestão, ou, como é muito comum, a de que o mérito seja de outra coisa, bem mundana. Por exemplo, na explicação 5, nós sabemos que o que curou o cachorro foi muito provavelmente o remédio, e não Deus. Isso não é uma prece atendida, é obviamente efeito de algo criado pelo homem, graças à ciência. Deus não atende a preces, porque ele provavelmente não existe, ou porque, se existe, ele simplesmente não liga pra você.

Além disso, se você acredita no Deus cristão e na Bíblia, deveria saber que rezar é inútil. Segundo a Bíblia, Deus sabe tudo de que você precisa e tudo que você deseja, e apesar das suas vontades e necessidades, será feita somente a vontade dele, Deus. Logo, rezar para ele é perda de tempo, já que ele sabe tudo que você vai dizer, e só vai te ajudar se quiser. Que tal confiar mais na sua própria capacidade de conseguir o que quer e ser feliz? Que tal acreditar mais nos outros e em si mesmo do que em um ser acima de nós, provavelmente imaginário?

Mas sabe, acho que estou desperdiçando espaço e palavras. Ninguém provavelmente acredita mais em milagres e preces atendidas hoje em dia. Pelo menos, não sinceramente, não de coração.


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